Eu não sou fã de rap. Na verdade, acho um gênero difícil de ouvir. Mas há exceções.
O que me traz ao Eminem que é o único autor de rap que eu ouço com alguma frequencia. Isso começou quando ele lançou um filme, 8 Miles, que é muito muito bom. E que tinha uma música matadora que chegou a concorrer (e ganhar) o Oscar de canção daquele ano. O ambiente e o enredo do filme era todo permeado por rappers e suas competições de rap, em que há um combate de versos em que você canta e tenta deixar o adversário sem resposta (como os repentes brasileiros) e a tentativa de um branco de entrar nesse mundo - que é predominamentemente dominado por negros. É quase que uma biografia do próprio Eminem, exceto pelo fato do personagem dele, no filme, ser um coitado, com uma mãe alcóolatra e um trabalho miserável, tentando se posicionar na vida. Bom filme, boa música, capturou minha atenção e fez com que eu tivesse dois ou três álbuns do Eminem em minha playlist.
E hoje eu ouvi uma música, que eu já conhecia, mas que me chamou a atenção por ser uma música epistolar, de troca de cartas entre um fã e um artista. É uma música sobre carência e sobre estrelato, sobre essa relação confusa, sobre violência, sobre falta de rumos. E Eminem fala muito sobre si mesmo e sua vida em suas músicas, sob a alcunha de Slim Shaddy, sua persona nas canções.
Uma coisa que me incomoda no rap (hip-hop) é o fato de as suas batidas serem, via de regra, "emprestadas" de outras canções, os famosos samplers. Como o acrônimo é de "ritmo e poesia" (rhythm and poetry-rap) a música que acompanha não pode chamar muito atenção, então o recurso comum é colocar uma batida em loop, com uma certa frequencia/velocidade que facilite a canção.
Mas, no caso de Eminem, essa regra é também subvertida e, muitas vezes ele tem bons arranjos ou então empresta trechos inteiros de canções, com suas letras inclusive. Os versos do dia de hoje vem de uma música cujo refrão inteiro é emprestado de uma música da Dido (que canta na versão original) e que o Elton John interpretou na entrega do Grammy. Os dois clipes abaixo mostram as duas versões.
Para finalizar sobre o Eminem, vale dizer que ele recebeu um elogio que, para mim, diz muito sobre o seu talento. Daniel Day Lewis, o grande, disse que se preparava para entrar em cena, nas filmagens de Gangues de Nova York, ouvindo Eminem, pois transmitia toda a angústia e raiva do personagem. Caramba, não é para qualquer um.
Enimem: Stan.
Clipe oficial com a Dido.
Ao vivo, no Grammy, com o Elton John.
Versos do dia:
"He wants to be just like you man, he likes you more than I do
I ain't that mad though, I just don't like bein lied to
Remember when we met in Denver - you said if I'd write you
you would write back - see I'm just like you in a way
I never knew my father neither;
he used to always cheat on my mom and beat her
I can relate to what you're saying in your songs
so when I have a shitty day, I drift away and put 'em on"
O que, em uma tradução livre e porca, seria:
"Ele quer ser como você, ele gosta de você até mais do que eu
Mas eu não estou chateado, só não gosto que mintam para mim
Lembra-se quando nos encontramos em Denver, você disse que se eu te escrevesse
você escreveria de volta - veja eu sou como você
eu também nunca conheci meu pai
ele costumava trair minha mãe e bater nela
eu consigo relacionar isso ao que você diz nas suas canções
então, quanto tenho um péssimo dia, eu vou por aí e as coloco para tocar"
Essa é a segunda carta citada na música, em que o fã já estão definitivamente irritado com a falta de respostas. Essa música é meio cinematográfica e vale a pena conhecer a estória que ela narra, é legal.
PS: Uma coisa muito forte nos artistas de rap é a improvisão. Reparem como vários versos mudam entre a versão oficial e a versão ao vivo, mas mantendo o seu sentido original. E se procurarem a letra da música na internet vão encontrar várias versões e talvez nenhuma bata exatamente com o que está sendo cantado.
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