quarta-feira, julho 29, 2009

...Reticências...

...Reticências...

Eu vejo um oceano em cada gota
deste licor de menta que insiste
em se derramar sobre a minha testa cansada
O caos coordena a direção dos pingos pelo meu rosto
A rosa dos ventos os conduz, amargurando-me
pois preciso de um amor psicografado.

domingo, julho 19, 2009

Curiosidade

Estava refletindo um dia desses sobre o que move as pessoas e o que as faz ser o que elas são. Mesmo no aspecto profissional, o que é que faz com que elas optem por essa ou aquela profissão. Existe mesmo algo como "vocação"? E, se sim, como ela se dá?

Na minha opinião, a resposta a essas perguntas é a curiosidade. E mesmo a vocação, se existir, se manifesta através dela.

Eu, por exemplo, não tenho a menor vocação para qualquer assunto relacionado a mecânica de automóveis. Não gosto do tema. Não me interessa, não desperta a minha curiosidade. Mas sou apaixonado por F1, mas isso se deve ao meu amor por esportes e por ter sido um grande fã de Ayrton Senna, época em que minha curiosidade por esportes era muito grande, a ponto de assistir a um jogo entre Ituano e Novorizontino pela Copa São Paulo de juniores de forma muito interessada.

E essa curiosidade que as crianças demonstram, por este ou aquele assunto, é que eu acredito que sejam os grandes condutores de suas vidas, suas personalidades e, possivelmente, de suas vidas profissionais.

Vou então tentar entender o porquê me interessei por computação. Morava em Costa Rica e tinha feito um curso de datilografia e, depois disso, um curso de datilografia em máquina elétrica. Um dos donos da escola de datilografia era o meu pai e ele havia comprado o primeiro computador da cidade, visando começar a oferecer também cursos de informática. Eu tinha de 14 para 15 anos. Computadores, eu conhecia, apenas de filmes e achava muito curioso o que se poderia fazer com eles, supondo que o que via nos filmes era verdade.

E foi assim, movido por muita curiosidade, que comecei a estudar, junto com meu pai, como funcionava um computador. Digitar eu já sabia, mas o computador ia muito além da máquina de escrever e até mesmo da máquina elétrica. Sim, ele era interativo. Foi com grande entusiasmo que aprendi a escrever textos no Wordstar e no Fácil - o equivalente ao Word, na época. Dominei o MS-DOS e seus comandos e até me tornei um instrutor de informática, apesar da pouca idade, na escola de meu pai. O computador se tornou um parceiro, substituiu o master-system que eu queria ganhar e zerava Prince of Persia em 20 e poucos minutos.

Meu pai e seu sócio firmaram um contrato com a prefeitura, para fornecer equipamentos e treinamento, além de fazer todo o "processamento de dados", o que incluia fazer todos os lançamentos de informações nos softwares utilizados pela prefeitura. Uma empresa de Campo Grande era a fornecedora das soluções. E, por descuido ou por praticidade, deixaram o código-fonte de alguns programas por lá. Como estava curioso por saber como funcionava a tal "programação de computadores", comprei alguns livros e comecei também a ler o código-fonte dos softwares da prefeitura. Aprendi muito com eles e complementei o conhecimento com os livros de Clipper e Dbase III Plus. Vendi vários sistemas para comércios da cidade e aprendi ali uma profissão.

Fiz o curso de Ciência da Computação muito curioso sobre o que aprenderia, basicamente pensava que seria um curso técnico, que me ensinaria uma linguagem por ano. Ledo engano, encontrei algo totalmente diferente, científico, de base, matemático. Aprendi o que era ciência de fato, aprendi a aprender e, principalmente, consegui dar valor às coisas certas no que se refere à computação. Linguagens, bah. Descobri a engenharia de software, os compiladores, as idéias por trás dos sistemas operacionais, a inteligência artificial...

Enfim, a curiosidade, que começou lá atrás, em como aprender a digitar (ou datilografar, para ser mais preciso) mais rapidamente, me guiou até aqui, prestes a iniciar um doutorado em biologia computacional.

Não creio que eu seja a exceção. É a curiosidade que nos torna quem somos. Afinal, o que desperta a sua curiosidade?

Cloverfield

Assisti na semana passada o bom Cloverfield, que no Brasil ganhou o sub-título "Monstro". Bizarro.

O enredo do filme é um fiapo: sem qualquer explicação, Nova York passa a ser atacada por um monstro gigante e, possivelmente, seus pequenos filhotes. Pronto.

Qual a expectativa possível para um filme assim? Dá para prender a atenção? O que ocorre, em geral, em filmes assim é que somos apresentados a alguns personagens no começo do filme e mal conseguimos identificar quem é quem à medida que eles começam a ser devorados e mortos, até que conseguimos saber quem é o casal de mocinhos, que inevitavelmente estava brigado e se reconcilia ao final do filme, salvando o planeta da ameaça.

Mas, para tornar Cloverfield algo diferente e muito mais interessante, o filme segue um caminho similar mas com uma diferença marcante e que gera resultado: Cloverfield é um documentário, à la A Bruxa de Blair, é verdade, mas um documentário.

No começo do filme, começa a ser exibido um filme feito no dia do ataque do monstro à cidade, provavelmente a partir de uma fita recuperada dos destroços e sendo assistida por nós, espectadores, e também provavelmente por pessoas do exército americano procurando entender o que houve. E essa é a graça da estória, este tom documental nos apresenta os personagens de forma muito mais orgânica e as reações aos ataques soam naturais, espontâneas. Sabemos apenas o que os próprios personagens sabem e entendemos suas motivações. No final das contas, a diferença está ai, nos preocupamos com os personagens.

Vale a pena visitar esse bom filme, que vai muito além do gênero horror, dando pequeno destaque à criatura e aos ataques e mais na boa edição, nas atuações e em soluções para que a "idéia" de documentário se mantenha realística. Esse é o ponto fraco, é difícil crer que os sujeitos ali envolvidos continuaram gravando tudo o que ocorria, dada a gravidade dos fatos e o seu envolvimento direto neles. Mas o esforço ao menos torna mais ou menos crível que fosse possível, um pouco por fazer do personagem que captura as imagens um verdadeiro paspalho, de quem você poderia esperar qualquer coisa, até mesmo continuar gravando os ataques mesmo correndo risco de morte.

4 estrelas em 5. Boa diversão com um formato inovador e bem construído.

A Cura de Schopenhauer

Antes de falar deste livro, um breve comentário sobre "Quando Nietzsche Chorou" (QNC), obra mais famosa do mesmo autor e que eu li no ano passado. Me causou um profundo impacto, principalmente pela forma como questiona a forma como vivemos, nossas escolhas, nosso comodismo. A frase retórica "o que você faria se não estive consumido" - que não é utilizada exatamente desta forma - teve muito impacto em mim, bem como a terapia proposta por Nietzsche para seu "terapeuta" e a teoria do eterno retorno, de viver uma vida que você não se importaria em repetir por toda a eternidade, mas levando isso em conta a cada pequeno gesto, a cada decisão, a cada ato.

Porém, apesar da força das idéias do livro, em termos literários não se pode dizer que QNC seja um primor. Apesar da densidade dos temas abordados, a leitura era fácil por dois motivos: o autor não tinha pretensão estilística e buscava uma escrita fácil (de aeroporto, como dizem) e, talvez já supondo que o leitor não estivesse tão atento, o recurso de repetir tudo o que é dito três vezes, uma vez no encontro entre os dois personagens principais e depois nos pequenos resumos que eles faziam, em suas anotações.

A Cura de Schopenhauer (ACS) também traz o nome de um famoso filósofo em seu título e as semelhanças não param por aí. Também aqui, os pensamentos de um filósofo são utilizados como terapia. Contudo, há diferenças importantes. Nietzsche era um personagem do outro livro e a psicanálise estava apenas engatinhando, sendo testada, na trama de QNC. Já em ACS, o filósofo-título é apenas referenciado por um dos personagens, a trama se dá, quase que integralmente, em uma sala de terapia em grupo e a estória se passa no mundo contemporâneo.

Nos dois casos, é interessante observar como o sexo e os relacionamentos são os assuntos predominantes em terapias. Nada de surpreendente, é claro. De fato, nada mais complexo e perturbador. Será que ninguém procura um terapeuta por que acha que não tem uma boa caligrafia?

Em A Cura de Schopenhauer conhecemos um pouco mais do pensamento deste austríaco/alemão, pessimista, misantropo, solitário e genial. Não fui tão tocado pelos seus pensamentos quanto pelos de Nietzsche. Se esses livros do Yalom serviram para alguma coisa, foi para me apresentar um bom resumo e de maneira bastante acessível sobre os pensamentos destes dois filósofos e também por apresentar com detalhes, principalmente em ACS, a dinâmica de uma terapia.

O enredo é simples: acompanhamos as sessões de uma terapia de grupo e a dinâmica entre estes personagens. Tem o homem viril, rude e explosivo, a mulher bonita que não se sente interessante, o homem com memória fotográfica mas dificuldade de expressar seus sentimentos, a mulher que se sente rejeitada por não atender os padrões de beleza, enfim, um cenário típico de problemas que vão além da caligrafia. E temos Philip, que curou um comportamento obsessivo do passado - depois de ter procurado por diversos tipos de tratamento - através do pensamento de Schopenhauer. E o terapeuta, Julius, que havia tratado Philip sem sucesso no passado e que agora descobre-se com doença terminal e tendo que conduzir o grupo e, em especial, dando-se mais uma chance de agir positivamente por Philip.

Novamente, não vejo muito mérito literário, mas trata-se de leitura que prende a atenção e instrui, como manda um bom best-seller.

Livros

Já que este é o espaço no qual registro meus pensamentos e fiz alguns posts sobre música e também publiquei alguns dos textos que escrevi para o trabalho que chamo "Para Todos Nós que me Habitamos", resolvi aproveitar que minha relação com este blog está se estreitando e publicar aqui também minhas opiniões também sobre os livros que estiver lendo e os filmes que ver. Além de falar de música, que é minha força-motriz.

Bem, decidir falar sobre os livros que leio significa dizer que, por ano, teremos 2 posts sobre o assunto. Ao menos, se eu mantiver esta ridícula média anual que não me dá nenhum orgulho. Pior ainda quando constato que tenho dado total preferência aos livros de fácil leitura e relegado a segundo plano até mesmo os planos de adentrar leituras mais densas, como minha coleção dos pensadores. Bem, este ano li um Dan Brown - Anjos & Demônios - e terminei hoje A Cura de Schopenhauer. Ano passado, lembro de ter lido o Harry Potter 7 e também Quando Nietzche Chorou. Vejamos nesses próximos meses como será, se me darei por satisfeito apenas com esses dois títulos, lidos até aqui, ou se vou conseguir acrescentar ao menos mais uns 3 ou 4 livros no meu rol de lidos em 2009.

quarta-feira, julho 08, 2009

PARA TODOS NÓS QUE ME HABITAMOS - O Mar e as borboletas

O MAR E AS BORBOLETAS

À medida que o tempo passa, aumenta a minha tristeza
Minha felicidade está vinculada ao tempo
Porém, devo reconsiderar, já que o tempo afasta
ao mesmo tempo que aproxima.

Olho no espelho, meus dentes estão trincados...

quinta-feira, julho 02, 2009

PARA TODOS NÓS QUE ME HABITAMOS - Coleção do Diabo

Fiz uma compilação de textos meus em 2002 e a batizei de Para Todos Nós que Me Habitamos, já que tratava-se de textos escritos em fases muito diferentes e com propósitos tão diversos, representando vários eus. Aos poucos pretendo publicar esses textos aqui no blog, juntamente com os textos da outra coletânea, Meu Reflexo em um Caco de Vidro.

Coleção do Diabo (Devil's Collection)

Todas as palavras, as palavras mais belas
De nada me adiantariam...
Algumas formas de expressão, talvez as mais sinceras
quem sabe, resolveriam...
Mas o que de fato eu preciso
Só depende de mim...
É daí que vem toda a minha fúria:
uma coleção de pequenas coisas
que juntas são suficientes
para tornarem-me
uma espécie de ovo
que esperou demais.

Nem mesmo as mais belas palavras
Escritas com as mais belas letras
Seriam capazes de saciar a vontade
De demonstrar o que eu sinto...

Música com personalidade e a crise da novidade

Dois temas. Começo pelo segundo. Acredito e noto no comportamento dos próximos que vivemos uma crise da busca pela novidade, em termos de consumo de arte ou entretenimento. Explico, essa crise ocorre quando o que nos sacia é sempre o novo. É evidente que o conceito de qualidade não se perde nessa busca, mas ele é relativizado.

A idéia é mais ou menos a seguinte: não importa se Pato Fu lançou 6 álbuns memoráveis até 2002, com relação aos quais eu tenho o maior apreço. Eu continuo buscando coisas novas, sempre, ainda que não encontre nada tão bom quanto as músicas e músicos que já conhecia e apreciava. E isso ocorre de tal forma que eu consigo passar 10 anos sem ouvir um álbum tão bom quanto Televisão de Cachorro, que eu retomei agora também como parte do processo de "transposição de mídia" dos meus CDs. Eventualmente, em rodas de amigos, ouvia novamente "Antes que Seja Tarde" ou "Canção para Você viver mais", mas já havia muito que não ouvia as ótimas "Nunca Diga", "Licitação" e "Boa Noite".

E aqui é o ponto do primeiro tema. Música com personalidade. Não é legal quando pelo timbre do vocalista ou pelo estilo do riff de guitarra ou pela harmonia dos diferentes elementos no arranjo você consegue identificar o artista, com poucos segundos de música, ainda que talvez seja a sua primeira audição? Como não reconhecer uma música do Smiths/Morrissey? Ou do Pearl Jam, ainda que hajam imitações? Como não reconhecer uma música do Pato Fu, na sua boa fase? Das que citei acima, as duas últimas, com certeza absoluta, só poderiam ter sido compostas por esta banda. Seria impossível conceber que outro conjunto de pessoas pudesse fazer músicas como aquelas, é algo único, identificável sem ser previsível, contagiante por sua natureza única e diversa, é o resultado da combinação artística de pessoas atuando em sua plenitude e isso não pode ser reproduzido ao acaso.

Diferente de tantas e tantas novidades que assumem rótulos que servem para embalar mas também para limitar, enlatar e, assim, mesmificar.

Nada contra as novidades, também vivo em busca delas e diversas são as vezes em que elas me trazem de volta um sorriso ao rosto. Só não acho justo deixar de visitar amigos tão caros e queridos apenas por esta necessidade de novas aventuras. Espero ser mais fiel a partir de agora.