terça-feira, abril 19, 2011

Calvin filosofando sobre 42...


(Calvin): Digamos que a vida é esse quadrado na calçada. Nós nascemos naquela rachadura e nós morremos naquela outra ali.
(Calvin): Agora nós nos encontramos dentro do quadrado e no processo de andar para fora dele. De repente nós percebemos que o nosso tempo aqui é efêmero.
(Calvin): Seria nossa rápida experiência aqui sem sentido? Será que algo que a gente diz ou faz realmente importa? Fizemos algo importante? Fomos felizes? Fizemos o máximo desses poucos passos?

domingo, abril 10, 2011

Los Hermanos: Amarante x Camelo

Los Hermanos é uma banda única. Apesar de guardar semelhanças com diversas outras. Musicalmente e em termos de trajetórias há interessantes relações com os Beatles, o que nunca é ruim.

Final da década de 90 e Anna Júlia, o seu maior hit e quase sinônimo da banda para todos os que não a admiram, tocava incessantemente nas rádios e em todos os programas de TV. O clipe com a bela Mariana Ximenes era exaustivamente repetido na MTV. Parecia mais um daqueles fenômenos de banda de um hit. E, de certa forma, era. Um trabalho de produtor, uma música de trabalho grudenta, pegajosa até, mas muito bem concebida, simples, um sucesso. Tanto que o ex-Beatle George Harrison a regravou.

Consigo até imaginar os bons músicos e letristas da banda discutindo com o produtor do primeiro álbum e após toda a repercussão, promessa de sucesso cumprida, shows e mais shows agendados e um público sedento por uma canção. E o resto do concerto? Bem, quando se olha para as demais músicas do primeiro álbum até encontra-se outras músicas "de trabalho" (Primavera, por exemplo), mas também há o lado mais experimental e conceitual que viria a caracterizar as composições da banda (Pierrot, Azedume).

Rótulos servem para essas ocasiões e muitos deixaram de considerar Los Hermanos como uma banda que pudesse trazer algo de bom. Anna Júlia era comercial demais para que o público indie, cult pudesse voltar a dar uma chance à banda. E conheço vários amigos que, como comigo, deixaram esse preconceito atrasar consideravelmente a verdadeira descoberta da banda.

Pois com o segundo álbum, O Bloco do Eu Sozinho, o grito de independência estava dado. Um álbum que namorava a MPB, tendência reforçada dai por diante, e no qual ficava muito clara a divisão criativa que é a força maior da banda. Seus dois compositores, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, dividiam várias das composições do álbum, alternando os vocais e, de certa forma, os estilos. A voz rouca e ritmada de Amarante e a voz mais suave e as vezes falha de Camelo, mas apoiadas por letras impactantes. Apenas para forçar a comparação, as diferenças entre McCartney e Lennon também foram a força motriz por trás dos Beatles, empurrando-os para sempre desafiar limites, impondo um nível de qualidade altíssimo às suas composições.

Acredito que essa dualidade foi essencial para que Bloco do Eu Sozinho fosse um álbum exemplar. Completamente diferente do primeiro, sem nenhum hit avassalador como Anna Júlia, serviu para reposicionar a banda no cenário musical brasileiro. De "banda da Anna Júlia" passou a ser uma banda "intelectualizada", que misturava rock com MPB, músicas conceituais e letras acima da média. E isso, também, cria seus preconceitos. Muitos críticos musicais passaram a classificá-la como "pretensiosa" e "chata".

O primeiro álbum, marcado por Anna Júlia, pode ser considerado um trabalho em que Camelo prevaleceu. Apesar de uma certa divisão de bons resultados no segundo álbum, Amarante pode ser considerado o "vencedor" já que Sentimental é composição sua e é destacadamente a melhor do álbum. A Flor, música cantada em duo, é outro ponto alto.

Mas Camelo dá um verdadeiro baile na obra-prima da banda: Ventura. O álbum é perfeito com todas as músicas com sua razão de ser, devidamente encadeadas, letras bem encaixadas, MPB e rock em perfeita sintonia. É fato que Amarante emplacou "Último Romance", que está entre as melhores do álbum, mas Camelo conseguiu compor uma santíssima-trindade do Los Hermanos: O Vencedor, De Onde vem a Calma? e Cara Estranho. E isso por que Tá Bom e Além do Que se Vê são também excelentes.

Com o placar favorável, Camelo não sabia o que o esperava para o quarto - e até agora último - álbum da banda, batizado Quatro. É o caso contrário de Ventura. O álbum é difícil, demorou para cair no meu gosto - que esperava algo próximo do trabalho apresentado anteriormente. Aqui não há mais rock, temos apenas MPB. As canções de Amarante se destacam, como O Vento e Condicional. Camelo aparece com Fez-se Mar, o seu melhor trabalho neste álbum. Mas a vantagem de Amarante é tão acachapante que, talvez devido a isso, a banda resolveu dar um tempo. Aqui um outro paralelo com os Beatles, que decidiram parar no auge de seu sucesso justamente por não mais conseguir conciliar as diferenças criativas entre suas duas balizas.

Sem mais shows e rotinas de gravação, Amarante foi para os EUA encontrar-se com o brasileiro Fabrizio Moretti dos Strokes e formar o Little Joy. Era um trabalho diferente do exercido nos Los Hermanos em qualquer fase. A criatividade e a vontade de inovar ainda eram fortes.

Já Camelo seguiu o caminho óbvio, lançando-se em carreira solo e dando continuidade à sua guinada para a MPB. Nós (ou Sou), seu primeiro álbum, tem algumas boas músicas mas parece um rescaldo do Quatro. A música de trabalho, Janta, é interessante e foi cantada com o seu affair Mallu Magalhães, à época com 15 anos (ou algo assim).

Até que ponto existia mesmo essa rivalidade entre eles? Até que ponto essa era a receita para a inovação, a criatividade e a qualidade da musicalidade da banda? Eu acredito que a rivalidade existia e era, sim, essencial. Às vezes a motivação que precisamos para fazer algo muito bem é justamente mostrarmos a alguém que podemos ser tão bons quanto eles... e assim, nos superamos.

O Los Hermanos está voltando do seu "recesso". Ir a um show deles é algo que quero fazer enquanto for possível. Amarante e Camelo juntos, hermanos, no mesmo palco, rivalizando-se e proporcionando aos seus fãs o deleite de apreciar grandes canções.

sábado, abril 09, 2011

Calvin ensinando a viver bem...


(Calvin)- Sabe o que eu percebi, Hobbes? As coisas não te perturbam se você não pensa nelas.
(Calvin)- Então de agora em diante eu simplesmente não vou pensar em nada que eu não goste, e eu vou ser feliz o tempo todo!
(Hobbes)- Você não acha essa uma maneira irresponsável e patética de se viver?
(Calvin)- Ah, que bela tarde!

Versos do dia: O Vento (Los Hermanos)



Posso ouvir o vento passar,
assistir à onda bater,
mas o estrago que faz
a vida é curta pra ver...
Eu pensei..
Que quando eu morrer
vou acordar para o tempo
e para o tempo parar:
Um século, um mês,
três vidas e mais
um passo pra trás?
Por que será?
... Vou pensar.

(...)

Se a gente já não sabe mais
rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.


Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar...

quinta-feira, abril 07, 2011

Sobre a motivação


Deve-se conhecer a meta antes do percurso. Para quem não sabe seu destino qualquer lugar é satisfatório? Imobilidade é uma solução ou sem movimento não se chega a lugar algum? Por que nos levantamos de manhã?

É gozado que eu esteja escrevendo mais no blog ultimamente visto que a curva de minha motivação tem a assíntota horizontal no eixo X. Legendas? Sim, no limite, a minha motivação tende a zero. Já não quero mais trabalhar, o apetite inexiste, a ansiedade consome e, de certa maneira, o pavor do porvir se apodera. Afinal, a vida segue ainda que eu imóvel. No máximo posso controlar a velocidade... ela segue mais lentamente quando recuo.

O corpo demonstra sinais claros de esgotamento. Nas últimas semanas, poucas horas de sono. Ontem palpitações. Dissabores levam o corpo a tremores. O travesseiro se deformou com o peso exercido pelos pensamentos.

Motivação é provocar ações, como diz a imagem exposta acima. Ações provocam reações. E essas não controlamos. E controlamos o resultado das inações, por acaso?

Em filmes o herói é confrontado, em uma roda, por vários inimigos que, docilmente, vem um a um confrontá-lo e, esperadamente, são um a um derrubados por golpes certeiros, infalíveis. O que aconteceria caso tentassem atacá-lo ao mesmo tempo e por que não o fazem?

Não, o equilíbrio do herói assim não permite. Ele encara um desafio por vez, olha diretamente no olho do inimigo, reconhece-o, ganha o seu respeito e utiliza-se de sabedoria, não só de força, para vencê-lo.

Não sou herói de filmes de ação mas também não quero ser vilão de um filme sem ação. Não quero estar jogado ao solo enquanto todos os inimigos me pisoteiam, socam, chutam, batem. Nesta situação até mesmo pequenos adversários sentem-se confiantes para aproximarem-se, chutar meus olhos, cegar-me, atirar areia em meu rosto.

Sei que se erguer um pouco a cabeça conseguirei identificar esses adversários minúsculos e, de pronto, empurrá-los para longe para, assim, com mais fôlego, ao menos ajoelhar-me a fim de receber os demais golpes com mais dignidade, olhando nos olhos do inimigo. Até ganhar forças para, novamente de pé, tentar impedir os golpes e quem sabe contragolpear. Poderia também fugir mas não há paz sem guerra. Tal qual o esquilo preparando-se para o inverno, precisarei quebrar meus problemas em pequenos lutadores contra quem eu possa preparar-me para enfrentar.

Tudo isso é possível caso a meta seja conhecida. Para usar uma frase clichê, toda jornada começa com o primeiro passo. E, no meu caso, o primeiro passo é reencontrar a motivação. Motivação para encontrar soluções onde hoje, por vezes, não consigo sequer me expressar. Motivação para encontrar a paz onde hoje sinto-me incapaz. Motivação para redescobrir o novo onde hoje não passo de consolo.

A pergunta que ainda não sei responder é se é possível motivar-se com suas obrigações, com regras impostas, com artificialidades? Como encontrar ânimo para fazer algo que só está sendo feito por que assim foi determinado? Como encontrar energia para impor o seu eu quando ele inexiste mesmo em você? Como encontrar alegria ao conviver com reações previsíveis, artificiais e caricatas? Como agradar sem ser autêntico? Qual o valor disso?

Espero escrever em um futuro próximo um novo texto sobre motivação que seja recheado de respostas ao contrário deste em que prevalecem as perguntas. Se assim for é porque motivado estarei.

Versos do dia: Ando Só (Engenheiros do Hawaii)



ando só
pois só eu sei
pra onde ir
por onde andei
ando só
nem sei por que
não me pergunte
o que eu não sei

pergunte ao pó
desça o porão
siga aquele carro
ou as pegadas que eu deixei
pergunte ao pó
por onde andei
há um mapa dos meus passos
nos pedaços que eu deixei

desate o nó
que te prendeu
a uma pessoa que nunca te mereceu
desate o nó
que nos uniu
num desatino
um desafio

ando só
como um pássaro voando
ando só
como se voasse em bando
ando só
pois só eu sei andar
sem saber até quando
ando só

quarta-feira, abril 06, 2011

Versos do dia: White Stripes (Little Acorns)



Depois de livros e filmes de auto-ajuda chegou a vez das músicas de auto-ajuda!

Little Acorns é um rockão de primeira... mas também é a inauguração desse novo filão... começa com uma narração de como a superação pode vir da observação da natureza (um esquilo estocando nozes para o inverno que se aproxima) e continua a pegada rocker com o refrão "faça como o esquilo, garota!". Sensacional é pouco... chega a ser estupendo.

E os versos do dia são:
Take all your problems... and rip 'em apart
And another thing that you should know from the start
the problems in hand are lighter than at heart

terça-feira, abril 05, 2011

Up In the Air/Amor sem Escalas/Nas Nuvens

Recentemente eu reassisti Amor Sem Escalas e o filme passou muito bem pela revisita. Aviso: os comentários a seguir relatam detalhes da estória.

A propósito, o título brasileiro vende a estória como uma comédia romântica e até contradiz a narrativa apresentada na película, pois se há um amor que nasce isso se dá após várias escalas e se há esse novo sentimento surgindo no personagem Ryan Bingham (George Clooney) não é, acredito eu, amor por alguém mas por um conceito.

Falando em títulos e traduções, cabe dizer que a versão que assisti - download ilegal - é a portuguesa. Lá na terrinha, o filme foi batizado de "Nas Nuvens", o que é um título mais adequado mas remete, ao menos para mim, mais a uma alienação do que ao fato do personagem ter suas convicções sobre a vida, ainda que questionáveis no quesito humano e de interações mais intensas.

Finalmente, tomemos então o título original: No ar (Up in the Air). Simples assim, o título me remete a uma sensação de leveza, de "levitação". E, no contexto do filme, isso me leva às palestras "motivacionais" perpetradas por Bingham no decorrer do filme. Nessas palestras Bingham pede para a audiência encher uma mochila imaginária inicialmente com coisas materiais de nosso cotidiano, inicialmente coisas pequenas chegando até itens como carros e casas... e, num segundo momento, adicionando também pessoas à mochila. Depois, ironicamente, ele pede para que ao sentirmos todo o peso da mochila, tentemos dar um passo. A idéia é de que a felicidade está no movimento e de que ao nos apegarmos a coisas e pessoas impedimos que esse movimento se dê com a facilidade que deveria.
 
No fundo, acredito que esse é o verdadeiro tema do filme, a transformação do personagem de mochila vazia, alguém alheio a contatos, compromissos, interações mais profundas, em alguém que quer dividir sua vida, partilhar seus momentos e suas conquistas, viver em família. Uma mudança de conceito.

E essa é basicamente a estória que assistimos. Bingham apresenta o ar (avião) e os aeroportos como sendo sua casa. Apresenta também seus sonhos e suas metas frias, numéricas, vazias. E no decorrer do filme, acompanhamos as modificações em sua visão de mundo causadas por suas interações com a jovem, idealista e entusiasmante Nathalie (talvez a melhor personagem do filme), sua paixão por sua versão feminina, a mulher perfeita para alguém como ele, Alex e o seu envolvimento com sua família em uma tímida e involuntária participação no casamento da irmã. E como isso tudo, somado, aos poucos vai trazendo-o de volta ao chão, de maneira cada vez mais permanente. E o chão, neste caso, simbolizando apenas e tão somente o oposto do ar que o caracterizava ao princípio.

Portanto, neste leitura, não é a toa que ao ser forçado a montar base em uma única cidade (não mais voar... como sempre ameaça seu patrão) ele já não mais seja capaz de proferir o discurso sobre a mochila vazia. Agora a transformação está completa e ele não consegue mais se ver sem a família reconquistada, sem a busca de alguém com quem viver, sem se envolver e valorizar aqueles que são capazes de se envolverem. 

Filosofando um pouco, até consigo entender o final de certa forma pessimista para o personagem central. Após uma vida de desinteresse pelos outros - como representar isso melhor do que dando ao personagem a profissão de alguém que trabalha demitindo pessoas? - fazia todo o sentido que ele não conseguisse uma guinada de 180 graus tão rapidamente, apenas por que assim decidiu. Não, certos esforços precisam de tempo para que a recompensa venha e o grande mérito de Bingham é notar que sua mochila não pode ficar vazia para sempre, que movimento contínuo pode não ser a melhor resposta, que existem coisas a se valorizar um pouco além do materialismo frio e da vida livre para todas as oportunidades. Por vezes, temos sim que colocar coisas em nossas mochilas e zelarmos por elas. E mantermo-nos alertas para que, caso o peso comece a nos fazer tombar, tenhamos a sabedoria de novamente esvaziarmos a mochila para seguirmos avançando. A vida não precisa ser vivida com uma mochila vazia mas sim com uma mochila confortável, que nos faça bem.

domingo, abril 03, 2011

Biomas

Bati essa foto em Toulouse. Era uma quinta-feira, 31/03. Era o último dia do mês. E foi o início de uma nova percepção que se apossou de mim. Um novo olhar para coisas já vistas, já cansadas, por vezes até mesmo desgastadas.

Nunca fui uma pessoa voltada para a natureza. No velho debate campo x cidade me considero um urbanista. E as árvores, fáceis de achar uma vez que paradas no chão, citando o mestre Antunes, nunca me despertaram nenhum interesse em especial. Cresci sobre elas, apanhei vários de seus frutos durante a infância e é inevitável pensar em uma aconchegante rede quando observo duas árvores com a distância adequada e troncos suficientemente fortes. Fora isso elas passavam, ou ficavam, por mim despercebidas.

Mas, em Toulouse, escapando para tomar um ar durante um dia de apresentações de trabalhos científicos em uma unidade do Centro Nacional de Pesquisa em Agronomia (INRA), uma visão prosaica, corriqueira, como a da foto acima, tocou-me de maneira especial. Detive-me por alguns minutos a observar a composição da cena, os pequenos arbustos, a trepadeira sobrevivendo sobre o tronco, o solo rico e provendo nutrientes não só para as plantas mas para vários pequenos insetos e outros animais, passáros cantando e pousando sobre essa e outras árvores ao redor, formigas que habitam a pequena castanha que tenho à mão. E a beleza de cada uma dessas coisas e da interação entre elas me mudaram.

Talvez o que tenha me afetado de maneira mais profunda tenha sido enxergar a interdependência e o respeito entre esses seres. E a harmonia que as regras da vida soube impor.

Dois dias depois estava jantando na casa de um amigo, celebrando o aniversário de sua esposa. Primavera chegou, momento de exibir, satisfeito, as diversas variedades de plantas em seus vasinhos, na sacada. Pequenas plantas que após o mortal inverno ressuscitam como que dotadas de uma alma de fênix. Cada pequena nova flor, folha ou ainda apenas uma pontinha mais verde do que o restante do caule era mostrado por meu amigo com um orgulho de pai.

E é gozado pensarmos em como nos relacionamos diferentemente com pessoas (ou animais) e com as plantas. Para elas podemos interagir nos dando. Damos atenção, damos carinho, adubamos, esperamos sempre pelo melhor, pelo crescimento, para que sobreviva, cresça feliz e saudável. E depois observamos. E a resposta que temos não é imediata. Não se pode ser ansioso para se apreciar uma relação assim, temos que dar e depois observar. E, satisfeitos como pais, nos orgulhar quando nossos pequenos brotos desabrocham, saltam para a vida, reverdejam. E assim também deveria ser com nossos amigos, com nossos amores. Darmos, esperarmos e observarmos. Pois também com nossos relacionamentos vivemos em um bioma em que a interdependência e o respeito deveriam ser a receita para a harmonia.

Passei a respeitar muito mais quem se dedica a criar plantas. Seja no inverno ou em qualquer uma das estações.

Versos do dia: Moska em dose dupla.

Hoje foi um dia de ouvir Paulinho Moska. Na verdade... isso até começou ontem.

E foi difícil escolher qual canção iria ilustrar essa seção do blog para representar esse momento. Indecisão por indecisão, decidi não decidir. A Seta e o Alvo e Meu Pensamento Não Quer Pensar compõem, juntas, os versos do dia.



Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.

Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.

Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.



Meu pensamento não quer pensar
ele está com preguiça de se levantar
Depois de um sono tão profundo
é duro acordar e ver que no mundo
tudo é novidade, mas eu já conheço
Então volto a dormir que é pra ver
se me esqueço

Que meu pensamento não quer pensar
e para apreender eu vou ter que apanhar
pois só assim que o ser humano evolui
Só assim serei o que nunca fui
Tudo é tão velho e eu ainda nem nasci
O tempo nunca passou e eu nem percebi

Que o meu pensamento não vai pensar
enquanto eu não fizer seu coração vomitar
toda a consciência que não o deixa em paz
com os mesmos padrões de séculos atrás
com as mesmas paixões por coisas
absolutamente banais.