domingo, fevereiro 14, 2010

Simplesmente Feliz / Happy-Go-Lucky

Mais um filme assistido, o encantador Simplesmente Feliz ou, na versão original, Happy-Go-Lucky.



O filme narra alguns dias na vida de Poppy, uma professora do primário que tem uma maneira muito particular de encarar a vida, que o título brasileiro do filme captura bem, vivendo de maneira simples e buscando ser feliz. É uma personagem fascinante pois está sempre com um sorriso no rosto, com uma brincadeira para fazer e querendo contagiar a todos com sua espirituosidade. Não posso deixar de dizer que me identifico com essa faceta da moça. Principalmente nos casos em que suas piadas não são tão apropriadas mas, mesmo assim e na melhor das intenções, ela insiste em tentar fazer do mundo um lugar menos ranzinza.



A narrativa central da estória é o que confere à estória um toque de "algo mais", ao acompanhar Poppy em suas aulas de direção com o instrutor Scott, uma pessoa absolutamente racional e, de certa forma, amargurada.



Neste ponto, o texto de Mike Leigh, também diretor do filme, ganha uma camada adicional e passa a confrontar estilos de vida antagônicos e os impactos que eles trazem. É sintomático que a profissão de Scott seja a de um instrutor e que ele tenha desenvolvido um método absolutamente único e bem construído, envolvendo pirâmides e olhos mágicos, para cumprir seus objetivos. Tudo deve ter uma razão, um motivo. E quando não é possível enxergar claramente qual é esse motivo, teorias conspiratórias passam a ser a válvula de escape e vários dos diálogos de Scott beiram o irracional quando tentam racionalizar e dar sentido ao mundo em que vivemos. E há, é claro, ataques à avoada e desligada Poppy a ponto de nem sequer acreditar que ela possa tomar conta de crianças se ela mal consegue deixar de rir ao se aproximar de um cruzamento.

E nesse dilema entre dirigir e deixar-se levar temos um desfecho emocionante para esse relacionamento, ao mesmo tempo em que acompanhamos com interesse as relações mantidas por Polly com os demais personagens do filme: sua chefe que a convida para uma aula de flamenco, sua companheira de quarto com quem ela mora há mais de 10 anos e com quem já correu o mundo, suas irmãs e, é claro, um interesse romântico. E toda essa diversidade dá consistência à personagem, deixando claro que há riscos em sua forma de agir, tanto do ridículo quanto riscos físicos, de agressão, como na tensa cena do vagabundo. Mas Poppy e sua forma de ser crescem diante de nós e a estranheza inicial diante de seu comportamento um tanto absurdo vão dando lugar à sensação de que não há, ali, senão uma grande lição.

Cotação: 5/5

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