domingo, novembro 29, 2009

Zoombido

Às vezes esse blog parece falar muito de música e pouco de outras coisas que também me interessam. TV, por exemplo, não é uma dessas coisas. Assisto pouco, gosto de esportes, seriados, filmes. Mas filmes gosto mesmo é no cinema. Mas gosto também de programas de entrevistas. E tem um desta estirpe que acho genial: Zoombido, apresentado e idealizado pelo sensacional Paulinho Moska e exibido pelo Canal Brasil.

O programa é legal pois é um artista falando sobre sua arte com outros artistas. É diferentes de um Jô Soares e afins, onde em geral apresenta-se alguém completamente desconhecido ou, no outro extremo, já um medalhão e o Jô ou faz perguntas muito introdutórias, por um lado, ou então vira um bate-papo de botequim.

No Zoombido, Moska tem mais ou menos o mesmo repertório de perguntas, o que é compor, como é o seu processo, como você se sente ao terminar de compor uma nova música, enfim coisas que provavelmente o interessam profundamente em termos de comparação com seus próprios métodos. O cenário do programa é absolutamente relaxado e as pessoas conversam sentadas ora em poltronas ora no chão, descalças, confortáveis, sem nada muito pré-definido. É claro que as pessoas tocam suas composições - e as suas prediletas, não precisa ser o single da vez. E rolam jam sessions com o próprio Moska, o que é sempre empolgante.

No vídeo abaixo, por exemplo, Moska canta "10 Contados" ao lado da Céu, ótima cantora e compositora da nova (?) safra brasileira.


Por falar em Céu, neste mesmo programa ela também canta a belíssima "Mais um Lamento". Essa merece um post próprio.



Com tudo isso, já estou falando de música de novo. Mas o Zoombido é tão interessante que apresenta também outra fissura do Moska que é a fotografia. Durante as apresentações musicais, ele assume o papel de fotógrafo e registra a apresentação, sempre sob ângulos inusitados e utilizando muito fotos-em-reflexo, com a câmera mirando um espelho ou atravessando um vidro, copo, etc. de forma que a foto revele algo a mais do que apenas está sendo observado. Muito interessante e complementar.

Nas entrevistas, apesar do restrito repertório de perguntas, isso favorece na comparação entre os diferentes compositores. Apenas para ilustrar abaixo segue duas entrevistas com bons compositores: John (do Pato Fu) e Marcelo Camelo (ex Los Hermanos). Para um, as letras nascem primeiro enquanto para o outro a composição é dirigida pela melodia. E o John fala uma coisa muito legal e que eu corroboro: música é algo tão grande que existe uma música para cada estado de espírito e, mais ainda, existe uma música para te fazer passar de qualquer estado de espírito para outro.



Vejam que o John ainda faz uma comparação interessante, entre compositores que conseguem se juntar todos em uma sala, começam a falar daqui, tocar dali e depois de uma hora tem umas 3 ou 4 músicas. E ele comenta que esse não é o estilo dele, que precisa estar sozinho, mais concentrado, em um trabalho mais pessoal. Eu me sinto um pouco assim com relação ao trabalho de pesquisa, não consigo contribuir tanto em reuniões exploratórias, mas sinto que lá, no meu cantinho, consigo me organizar melhor e dar minha contribuição (póstuma).

Agora a entrevista do Camelo só dá para ver neste link. Não aceitou incorporar ao corpo do post...

E para finalizar essa pescaria sobre bons trechos do programa na web, um pouquinho de Adriana Calcanhotto:

sexta-feira, novembro 27, 2009

Caipira, eu?



Esse post é dedicado à Marie-France, para que ela reveja essa posição muito estranha que tem defendido, aqui em Lyon, de que eu tenho sotaque caipira. Não sei de onde ela tirou isso!?!?

Hipnotizado

Chega a ser perturbador como, de repente, me vejo aprisionado por algum pensamento que vai-e-vem, incontrolavelmente, incondicionalmente, sem que eu possa fazer nada a respeito a não ser deglutí-lo. O bom é que isso ocorre raramente.

Mas fenômeno parecido e muito menos raro é ser aprisionado por um trecho de uma música. Se a música for ruim, isso pode causar sérios distúrbios. ;-)
Mas ainda que a música seja boa, essa espécie de "hipnose" causada pela repetição constante, apenas em sua mente, dos versos e notas da música pode não ser agradável. E também precisa ser deglutida.

Há um mês, em Leiden, fiquei "ouvindo" mentalmente "Optimistic" do Radiohead Clique aqui para ver no Youtube uma versão ao vivo ou ouça a versão original abaixo.


O refrão da música que me hipnotizou diz: "You can try the best you can and if you try the best you can the best you can is good enough". O que, em uma tradução pedestre, quer dizer que se você sempre pode dar o melhor de si e que se você der o melhor de si, o melhor de si terá sido bom o bastante.

O gozado é que sei que a hipnose não começou lá, já que ainda lá eu comentei com um dos participantes do congresso, um computeiro suiço muito gente fina (Marko Terzer), que sugeriu um tratamento parecido com o tratamento de alergia, ou seja, ele iria "injetar" a música da qual eu estava alérgico e ver se, assim, eu reagiria. Resultado: ele pegou o ipod, colocou a música para tocar e só piorou a minha condição! rsrsrs

E, atualmente, a música voltou a me "incomodar", ela tinha dado um tempo mas agora voltou a tocar na minha cabeça, a aparecer sem qualque convite e martelar sua visão otimista de se tentar da melhor forma. Mas, desta vez, dei mais atenção a isso pois, de fato, tenho me cobrado muito. Sinto que estou um pouco (muito) aquém do que deveria. Mas sei que se eu correr atrás, se der o melhor de mim, então isso será o bastante pois é tudo o que eu posso exigir de mim mesmo. Não dá para ir além. Ou dá? Bem, isso só saberei se a próxima música que me hipnotizar trouxer a resposta. Se for um funk carioca, Deus me livre! ;-)

terça-feira, novembro 24, 2009

Curiosidades sobre a França

Algumas curiosidades sobre a França que observei até aqui, em pequenas gotas:

1) Venda separada de itens que estamos acostumados a comprar junto. Ex: panela e sua tampa. É claro que algumas panelas já vem com tampas, mas me pareceu mais comum encontrar panelas e tampas vendidas em separado. E o legal é que as tampas são feitas para se encaixarem em 3 tamanhos diferentes de panela. Logo, você pode ter a inteligente solução de ter 1 única tampa e 3 panelas! O que é bom, desde que você não queira usar duas ou mais panelas simultaneamente.

2) Venda separada de itens que estamos, definitivamente, acostumados a comprar junto. Ex: Edredom e sua capa. Aqui, eu comprei primeiro o "recheio" do edredom, aquela parte macia. Dormi com ela uma noite e notei que aquilo não estava certo. Voltei à loja e comprei a capa para o edredom, cheguei em casa e embalei o tal "recheio". Tudo certo e ainda é fácil para lavar. ;-)

3) Parar em fila dupla é normal. Nas ruas você vê carros parados na rua, em fila dupla, com o pisca ligado, sem qualquer problema. É comum. E os motivos podem ser desde para atender o celular até para ir comprar algo na loja da frente. Isso mesmo, a pessoa às vezes nem fica no carro! E o mais interessante é que os carros que vêm atrás desviam sem buzinar. Muito estranho de se ver, para quem vem do Brasil.

4) Dossiês. Essa é uma palavra que não usamos tanto no Brasil e aqui ela mostra sua cara. A burocracia aqui exige muitas vezes um dossiê em casos que no Brasil seriam resolvidos pela internet, em um telefonema ou, no máximo, com o preenchimento e assinatura de um único formulário. Aqui, alterar o seu endereço no banco pode ser uma aventura.

5) Diferença cultural interessante é o caso do chá e do café. No Brasil, essas palavras remetem imediatamente ao chá mate (de preferência, da marca Leão) e ao cafezinho preto, com pó e água quente "passando o café" no filtro. Se queremos um café expresso, temos que informar explicitamente. Aqui (e acho que no resto do mundo), chá é sempre chá preto. E qualquer outro sabor de chá não é mais chamado de chá, mas sim de infusão. Não tem "chá de hortelã", mas sim uma infusão de hortelã. E café é sempre expresso. Um professor italiano que aqui esteve nem entendia o que era um "café expresso", eles não usam esse nome lá.

Assim que colecionar mais observações, reforço a lista.

Stardust é muito bom!

Stardust é muito bom! Excedeu minhas expectativas ao me entregar muito mais do que eu esperava receber deste livro ilustrado de fantasia, escrito pelo genial Neil Gaiman, em 1998.

Eu soube um pouco do que se tratava a estória quando a adaptação do livro para o cinema começou a ser feita. O elenco desse filme já mostrava que tinha algo interessante nesse universo: Michelle Pfeiffer, Robert de Niro, Ian McKellen e Peter O'Toole do lado dos medalhões e do lado dos jovens talentos, Claire Danes, Sienna Miller, Ricky Gervais e Charlie Cox. Não vi o filme ainda, mas agora ao terminar de ler o livro sei que tenho que resolver essa pendência o quanto antes.

Mas, afinal, o que tanto encanta em Stardust? Antes de mais nada, reforço que "encantar" é justamente o verbo adequado para explicar a sensação. O livro narra a estória de Tristan Thorn, jovem apaixonado que tem que ir ao "mundo do lado de lá" para buscar algo que prometeu à mulher amada: uma estrela cadente. Dito assim, não parece que haverá salvação nessa estória, não é mesmo?

Ledo engano, a imaginação do autor, sua prosa econômica mas elegante, a trama ricamente elaborada com um arco dramático que nos faz chegar ao final torcendo pelo destino dos personagens coroam a aventura fantástica (nos dois sentidos) do rapaz pelo mundo mágico. Esse mundo aliás que é capaz de proporcionar não só belas imagens (nas gravuras de Charles Veiss que acompanham o livro) como também belas alegorias. A estrela cadente, no mundo mágico, tem a forma de uma pessoa. Na verdade, há até uma explicação para o tal mundo mágico, que fica ali na Inglaterra. Lá é o depósito de todas as coisas e seres nos quais os humanos não acreditam mais. Anteriormente, fazia parte de um mesmo mundo mas à medida que fomos deixando de acreditar, as coisas aos poucos foram se mudando para o "mundo do lado de lá". Todo personagem têm sua razão de ser, ocupa o espaço necessário dentro da trama e é tão bem desenvolvido em seus propósitos que podemos até antecipar como cada um reagirá e seus próximos passos, sem que com isso o livro se torne previsível mas, apenas, fazendo com que os personagens se tornem críveis. E as sucessivas trapaças aplicadas em camadas tornam o jogo de gato-e-rato irresistível. Para que fique claro, achei a jornada de Thorn para encontrar a estrela cadente mais interessante do que a jornada de Frodo para destruir o um-anel (sim, eu também li O Hobbit e o Senhor dos Anéis e essa é uma comparação entre os livros e não entre os filmes).

Tenho um gosto particularmente realçado para situações bizarras, estranhas. Foi surpresa, portanto, quando aqui também me deparei com algumas situações totalmente absurdas em certos contextos mas que nas mãos de Gaiman ganhavam um realce ora tocante, ora inquietante e ainda, por vezes, apenas divertido.

Exemplo disso é um conselho recebido pelo aventureiro, já no mundo mágico, de que apesar de sempre dever dizer a verdade quando perguntando, seria melhor não ser muito objetivo quanto às suas reais intenções (resgatar a estrela). O conselho, então, era para que ele respondesse "De trás" quando perguntado sobre onde vinha e que respondesse "Pra frente" quando perguntado para onde ia. Uma outra personagem, por sua vez, quando questionada sobre seu poder e sua inesperada longevidade, responde: "O esquilo ainda não achou a bolota que vai se transformar no carvalho que vai ser cortado para se transformar no berço do bebê que vai crescer para me matar". E nem preciso dizer que o tal esquilo acaba por aparecer na estória. ;-)

Conhecia Neil Gaiman dos quadrinhos de Sandman, que achava geniais. Estou cada vez mais interessado neste autor, apesar de ter lido um conto seu recentemente (Como Falar com Garotas em Festas) e ter achado tão mais ou menos.

sábado, novembro 21, 2009

Palestra muito interessante sobre educação e criatividade (habilite legendas em português)



Palestra de Ken Robinson sobre criatividade e o sistema educacional. Muitas piadinhas (algumas especialmente inspiradas), mas vale muito a pena ver.

sexta-feira, novembro 20, 2009

Frase

...e eu acho que vou precisar de toda a minha vida para aprender a viver... (adaptando a frase do papelzinho do chocolate)

quarta-feira, novembro 18, 2009

Música em movimento

Música me move. Música é meu combustível. Se eu pudesse eu ouviria música o tempo todo ou, ao menos, quase todo o tempo.

Desta forma passei a ouvir música em movimento. Ao escolher o meu novo aparelho celular cuidei de optar por um que lesse cartões de memória e fosse um MP3 player de forma a matar dois coelhos com uma só carteirada. E consegui. Transferi algumas coisas para os 2GB (não tanto quanto gostaria) do meu cartão e passei a ouvir música enquanto ando a pé ou de bicicleta, de casa para o laboratório e vice-versa. Assim, além de ouvir música durante o trabalho e quando estou em casa, também posso passar a ouvir música no trajeto entre um e outro. Música, música, música.

Ponto positivo: a função shuffle do aparelho funciona bem contribuindo para a imprevisibilidade (dentro do limite do possível em 2GB) da faixa seguinte. Isso é muito legal pois nem sempre quero ter uma playlist definida a priori. Por vezes é muito interessante definir apenas os parâmetros iniciais e ver no que dá, como se as músicas fossem elementos químicos e a ordem em que elas se arranjassem tivessem algum significado maior do que as partes, formando um todo muito mais complexo.

Nesses 2GB eu coloquei um pouco do que estava à mão (no computador, digo): Maré da Adriana Calcanhotto, Qualquer do Arnaldo Antunes (reforçando: Qualquer é o nome do álbum), Selmasongs da Bjork, Céu, Ceumar, Mariana Aydar, Marcelo Camelo, Editors, Interpol, Franz Ferdinand, System of a Down, Of Montreal, Radiohead, Roberta Sá e Yardbirds, dentre outros. A mais completa miscelânea capaz de fazer as mais absurdas combinações.

Mas, logo no primeiro dia, uma combinação um tanto bizarra aconteceu e me fez pensar bastante. E não estou mentindo. Pouco antes de eu chegar ao laboratório, começou a tocar "107 steps" do Selmasongs. Para aqueles que não viram "Dançando no Escuro" (Dancing in the Dark), belíssimo e muito triste filme do Lars Von Trier, feito no ano 2000 e com a minha musa musical Bjork em sua única atuação, por favor vejam. A próxima frase é perigosa para quem não assistiu. Vamos lá, essa música é da trilha sonora do filme e retrata os últimos 107 passos da personagem em direção à sua execução, já que ela foi condenada à morte por roubar (o seu próprio dinheiro) de seu vizinho, para pagar uma operação nos olhos de seu olho, evitando assim que ele também não enxergue, como ela, e possa ter uma vida normal. E a música começa com uma narração da contagem dos passos, que evolui lentamente para uma melancólica exaltação dos números.

O mais impressionante é que à medida que ela contava os passos para seu triste fim eu também subia uma escada, em direção à minha sala, e era inevitável pensar em começar a contar os degraus e pensar se também eu caminhava para uma execução ou apenas de volta para minha cela, digo, sala. Evidente que não, mas a coincidência foi interessante e exemplifica como a aleatoriedade pode rearranjar eventos e dar a eles um novo significado. E mais ainda, como o simples fato de ouvir música pode transformar atos simplórios como subir escadas, abrir portas ou olhar por uma janela e nos fazer viajar em pensamentos. Quem sabe, esses pensamentos podem nos empurrar em viagens reais e essas viagens reais possam impulsionar novas músicas e novos pensamentos, em um constante movimento que teve início com uma canção, escutada quando estávamos imóveis (ou não).