O sábado estava agradável. A praça central não estava repleta, mas havia já um bom público quando Rivers começou a soltar seus acordes de heavy metal e a típica voz aguda do gênero. A surpresa, para mim, foi vê-los cantando em português e um som autoral. Já havia conferido performances da banda em Campo Grande, mas sempre repassando os clássicos do gênero. Em Bonito, como tinha de ser, executaram suas próprias canções. É interessante que o festival tenha dado abertura a tantos gêneros e conseguido encaixar um show regional de rock. Valeu, Rivers! Cantar em português é desafiador e complicado. Na minha opinião, missão cumprida por ter mostrado seu valor e seu trabalho... mas dá para caprichar mais nos arranjos pois algumas das músicas soam muito parecidas com os tais clássicos que os inspiram. Um pouco de identidade fará bem ao Rivers.
Ao final do show tive oportunidade de papear um pouco com o casal Rivers, ambos vocalistas e guitarristas da banda. Gi Rivers comentou que eles estão aproveitando a onda autoral e a aceitação - e até a busca - do público de Campo Grande por som feito aqui para eles mostrarem suas composições, algumas que já estavam "empoeirando na estante" esperando o bem-vindo surgimento desse interesse.
A atração seguinte foi o ponto alto do meu fim de semana musical! O show do Criolo cumpriu o que prometeu: muita energia, boas letras, engajamento e uma mensagem repetida de amor & paz em meio aos raps falando de racismo, discriminação, modo de vida... depois dessa passagem de Criolo podemos dizer que existe amor no MS, que aqui não estamos acostumados com sucrilhos no prato e que terminamos o show todos chineizinhos.
Entrei no camarim, depois de esperar um tempo do lado de fora onde conheci Phillipe Reys, americano da Califórnia, amante de hip-hop, que veio a Bonito para ver Criolo e queria a todo custo uma foto com o músico. Vi dois Criolos lá dentro. Um pouco arrogante com o fã estrangeiro ("Se você entende o que eu falo tá bom, eu não tenho que entender o que você fala"), mas cheio de atenção e carinho com quatro fãs juvenis que entraram conosco. A mim, foi atencioso. Perguntei se tinha dado tempo de curtir Bonito e ele disse: "Boiei entre os peixes. Foi mágico. Vi que há outras formas de se viver a vida. Queria ser peixe".
O show de encerramento, na grande tenda, foi de Daniela Mercury. Foi, surpreendentemente, melhor do que eu imaginava. Não foi um show de axé, para começar. A baiana repassou, obviamente, seus sucessos, que estão longe de ter a mesma pegada dos equivalentes de Sangalo ou Leite. A turnê se chama "Canibália" e acredito que o conceito seja o de canabalizar a música brasileira, apropriando-se de temas clássicos: sambas, bossas, rocks. Ver Daniela cantando sucessos de Legião Urbana, Cazuza, Titãs dentre tantos outros foi estranho... mas o show foi recompensador por conta dos quatro bailarinos e suas coreografias belíssimas. Ela ainda mostrou-se engajada, citando os índios terenos e as manifestações por um Brasil melhor, incitando todos a não pararem de cobrar enquanto não houverem melhoras práticas. Como pontos fracos, a comemoração dos 40 anos de fantástico, que quebrou o ritmo e ficou bastante descontextualizada. E o exagero de apadrinhamento ao filho de Mercury. Mas deu para o gasto.