Assisti ao remake do clássico O Vingador do Futuro e não sabia o que pensar ao sair da sessão. Eu tinha gostado do filme mas também tinha visto uma série de problemas e tive a clara sensação de que poderia ter sido muito melhor. Era inevitável, também, comparar com o original. Só agora, que acabei de reassistir o filme com o Schwarza é que eu poderia fazer uma comparação, mas já esqueci a maioria dos detalhes da nova versão, o que, de certa forma, entrega bastante sobre sua qualidade.
Os produtores da nova versão, como sempre, justificaram a revisita dizendo-se interessados em se aprofundar no material original do conto de Philip K. Dick, que já nos brindou com Blade Runner e Minority Report, por exemplo. Nunca li o conto e, portanto, não sei julgar se a principal mudança com relação ao enredo do filme original é mais ou menos fiel, mas acreditando nos produtores, suponho que sim. Basicamente, não há Marte neste filme! E isso representa um de seus pontos fortes.
Outros dois pontos positivos da nova versão e que, de certa forma, justificam sua existência são o seu design de arte que concebe um futuro realista, convincente e deslumbrante e a nova escalação de atores, muito melhores do que os da versão original. É claro que Farrell não é um brutamontes como Schwarzenegger e consegue conferir muito mais humanidade e complexidade em sua atuação. Porém, com relação ao personagem principal (Quaid) e suas atuações, o que mais me chamou a atenção era a necessidade típica dos anos 80 e da persona de Schwarza de incluir uma frase de efeito ao final de cada cena, de cada inimigo batido. Soa completamente artificial e caricatural. As duas intérpretes de Lori, a esposa de Quaid, são equivalentemente belas mas aqui o personagem de Sharon Stone é muito melhor construído e cumpre seu papel na trama de modo muito mais eficaz do que a absurda e incansável máquina de guerra vivida por Kate Beckinsale no novo longa. Por falar nisso, para mim, esse personagem é o responsável, sozinho, por arruinar o novo Vingador do Futuro.
O futuro que a versão de 1990, de Paul Verhoeven, apresenta envelheceu mal e já não convence ao ser assistida nos dias de hoje, merecia uma nova roupagem. Como Marte não é parte da nova trama, não temos também os mutantes (a não ser em uma homenagem ao filme original totalmente despropositada e sem sentido no novo contexto). A trama social, contudo, é ainda mais envolvente, mostrando que a Terra agora é habitada em dois pólos, o norte super desenvolvido, rico e elitizado e o sul, pobre, dos operários, uma favela high-tech. Todos os dias, os operários vão trabalhar cruzando a Terra pelo seu centro, em um grande elevador que representa um dos melhores achados do novo filme.
Exatamente como no original, Quaid é casado com uma mulher que o ama, tem um emprego e aspirações de ter uma vida melhor e é atormentado por sonhos nos quais se vê com outra mulher, Melina, lutando contra um inimigo desconhecido. Descontente e sonhando em viver experiências diferentes, procura a empresa Rekall que vende viagens de sonhos através de implantes de memórias. Em seu pacote de "férias", inclui um opcional para viver a vida como um agente secreto mas no instante em que a aplicação tem início, Quaid passa a ser perseguido por agentes do governo que querem matá-lo e, a partir dai, o(s) filme(s) mergulha(m) em cenas de perseguição e na eterna incógnita se estamos acompanhando o sonho de Quaid ou se, de fato, ele era um espião. A trama política, nos dois filmes, é interessante e prende a atenção e o jogo duplo de Quaid/Hauser é bem arquitetado. O filme de 90 explora melhor a dúvida se o que acompanhamos é um sonho ou a realidade e tem um charme insuperável, além de toda a ambientação em Marte.
Gostei bastante da versão nova, acho que a atualização foi válida. Mas foi bastante divertido rever o original. Empate técnico, no embate entre a nostalgia e a tecnologia.