quarta-feira, dezembro 16, 2009

Faltam 3 dias...

Se a neve deixar e ela há de deixar, faltam 3 dias para voltar para meus amores, minha amada esposa e minhas lindas filhinhas caninas.

E o Nando Reis já soube cantar essa espera e batizou essa música de "para quando o arco-íris encontrar o pote de ouro", nada mais apropriado.

domingo, dezembro 13, 2009

Tindersticks

Ouvir Tindersticks é uma experiência que nunca pode ser classificada como indiferente. Essa banda inglesa, liderada por Stuart Staples, nunca fez sucesso mundial, mas é objeto de culto por seus fiéis ouvintes - como eu mesmo - dadas as belas letras sempre sombrias e enigmáticas e por Stuart ser dono de um vocal inconfundível. Ok, às vezes é semelhante a Nick Cave ou a um Johnny Cash pós-country, mas os estilos são muito diversos para que haja confusão.

Além disso, a banda vai além do tradicional bateria-guitarra-baixo e introduz elementos de orquestra, com belos arranjos incluindo violinos, violoncelos e outros instrumentos de cordas. Muitas das músicas não são sequer cantadas, mas sim narradas, como a bela "My Sister". Por vezes, talvez para fazer contraponto ao vozeirão de Staples, convidadas femininas complementam e contribuem com as composições como na arrasadora "Travelling Light" (veja abaixo).



Em Travelling Light somos apresentados a um personagem maldito que atravessa problemas existenciais e não consegue mais ver sentido em nada e, sequer, lembrar de mais nada ou ninguém. Em um determinado trecho aparece: "Do you remember, how much you loved me? / You say you have no room in that thick old head / Well it comes with the hurt and the guilt, and the memories / If I had to take them with me I would never get from my bed / There's a crack in the roof where the rain pours through / That's the place you always decide to sit / Yeah I know I'm there for hours, the water running down (my) (your)face / Do you really think you keep it all that well hid?".

O trecho final é de um lirismo exemplar: "tem uma fenda no teto de onde a chuva goteja / este é o lugar no qual você sempre opta por sentar-se / Sim, eu sei que fico lá por horas, com a água escorrendo pelo meu rosto / Você relamente acha que você manteve isso bem escondido?". De fato, é impossível.

Contudo, para mim, a maior música dessa banda é "A Night In", que sempre me remete ao universo de Kafka quando ouço - o que já a torna ainda mais atrativa. O seu refrão é um tocante "And I know you're hurting / And I can't be there for you / And I know you're hurting / And I can't be there no more" emoldurado por uma marcha ao violino e uma leve batida, transmitindo a angústia do abandono. E trata-se de uma música de fuga com os primeiros versos narrando exatamente a situação do fugitivo "had shoes full of holes / When you first took me in / The path that you led / Wasn't straight to your bed / There's no cots to sleep in / And you showed me / Who I was running from / As if I had not known all along".

Acho fantástico esse trecho inicial da música. Em uma tradução livre (e provavelmente falha) seria algo como "tinha sapatos cheios de furos / na primeira vez em que você me abrigou / o caminho pelo qual me guiou / não foi direto para sua cama / não haviam berços onde se dormir / e você me mostrou / de quem eu estava fugindo / como se eu não soubesse o tempo todo".

Fragilidade, acolhimento, reinício e, o mais interessante, quem dá o abrigo ao fugitivo também é responsável por mostrar a ele de quem ele fugia, ambientando-o devidamente em um universo Kafkiano. Por que fugias então, se sequer sabia de quem? E qual seria o medo que o impedia de olhar para trás. O verso seguinte entrega que de fato sempre soube, mas ainda assim a revelação se fez necessária.

Quando o personagem cita novamente a situação de seus pés (que são amigos da estrada lá fora, como ele fala em outro trecho), ele diz "I had calluses, not sores / And I'd like to keep them / So go turn those sheets / Get back on the street / There's nothing more I can bring to you / See I'm scared of the door / Afraid of the floor / Well, I'll go and walk right through / And I'll show you / Who I've been running from / It's the feeling of waking / And it's gone".

Brilhante! Seria algo como: "Tinha calos, não feridas / E gostaria de mantê-los / Então vá, tire esses lençois / volte para as ruas / não tem nada mais que eu possa trazer para você / Veja, eu tenho medo desta porta / Medo deste chão / Bem, então eu vou e vou seguir adiante / E vou mostrar a você / De quem venho fugindo / É do medo de acordar / e ver que se foi".

A inação e o medo transformando uma vida em fuga. E tudo isso brilhantemente amparado por música e por voz, com muito sentimento, como pode ser visto na apresentação ao vivo, clique aqui para assistir no You Tube, cuja qualidade do som não está tão boa mas que ainda assim é interessante ao relevar o quase-transe em que o cantor está durante a interpretação. Abaixo a versão original da música conforme foi gravada(apenas som).



O Tindersticks tem 8 álbuns lançados entre 93 e 2003. Músicas como Dying Slowly (abaixo), Talk to me - em que o refrão é tão dramaticamente denso que a voz do cantor é sobrepujada pela orquestração e perde-se em meio à música, como mais um lamento - ou Mistakes, ou ainda Tiny Tears e Can Our Love. Todas merecem uma busca no Youtube para serem conferidas ou, melhor ainda, o Tindersticks merece ser descoberto por inteiro.

sábado, dezembro 05, 2009

Curta metragens

A internet mudou o mundo, conectou as pessoas, alterou hábitos, modificou o panorama comercial, etc, etc, etc. Vários chavões podem ser ditos a respeito das maravilhas proporcionadas pela rede mundial de computadores.

Uma coisa, em particular, que a internet ajudou a tornar acessível a um público muito maior e que, antes dela, tinham um circuito muito mais restrito são os filmes de curta metragem. Eu mesmo posso dizer que antes de poder assistir filmes pelo computador não via curta metragens a não ser que eles fossem inseridos em DVDs/fitas como bônus ou em prévias dos filmes no cinema. Os festivais de curtas são restritos a centros maiores e não tem o mesmo apelo no grande público do que os longas, propulsionados pelos grandes astros e campanhas de marketing. Portanto, por natureza, os filmes em curta metragem já nasciam para públicos mais estreitos e, desta forma, imagino que tendiam a ter preocupações mais estéticas do que comerciais. Ainda tanto por que seus orçamentos são largamente inferiores.

Em Campo Grande, em 2005 salvo engano, passou a existir um Festival de Cinema que tinha uma programação de curtas e, então, já tive boas surpresas, como os bons filmes de Philippe Barcinski, cujo Palíndromo pode ser visto abaixo.



O gênero costuma ser bastante explorado em animações. E é ótimo quando uma animação explora com lirismo uma situação tão improvável quanto ser desprendido de si. Psicanálise, realismo fantástico e divagações filosóficas neste belo curta francês.

Skhizein (Jérémy Clapin,2008) from Bertie on Vimeo.



Ou a adaptação de um poema, chamado "Cat Piano", narrado pelo cantor australiano Nick Cave.

The Cat Piano from PRA on Vimeo.



Ou ainda com bom humor, como vários curtas feitos pela Pixar. Nesta linha (mas acredito que não seja da Pixar), segue abaixo as aventuras de uma pomba e um agente secreto disputando uma rosquinha.



Tem também um bate-papo sobre cultura pop, Tarantino inclusive, entre Seu Jorge e Selton Mello.



E até meu colega de doutorado, Vicente Acuña, já participou de curtas, como ator, durante sua jornada de estudos no Chile. Confiram abaixo (em duas partes):





Uma beleza poder, de forma tão simples, acessar filmes tão diferentes entre si. Bem-vindos ao maravilhoso mundo dos curta-metragens.